Os data centers são estruturas essenciais para sustentar a era digital. Eles abrigam servidores, sistemas de armazenamento e redes que processam um volume gigantesco de informações, permitindo que serviços online, aplicativos e plataformas em nuvem funcionem de forma ininterrupta. No entanto, manter essa engrenagem em operação demanda grandes quantidades de energia e água, já que os equipamentos precisam estar em funcionamento 24 horas por dia e exigem sistemas de resfriamento constantes para não superaquecer.
Grande parte da energia consumida em um data center é transformada em calor. Para evitar falhas e sobrecargas, é necessário manter a temperatura controlada, o que explica o alto gasto de eletricidade. Em 2023, estima-se que os data centers tenham consumido 176 TWh de energia globalmente, e as projeções indicam que esse número pode ultrapassar 1.000 TWh até 2030. Nos Estados Unidos, por exemplo, esse setor pode representar até 12% do uso de eletricidade nacional em apenas alguns anos. No Brasil, o impacto também já é significativo: o data center do TikTok, em construção no Ceará, deve consumir mais de 5.000 MWh por dia, energia suficiente para abastecer milhões de pessoas.
Além da eletricidade, a água é outro recurso vital para os data centers, principalmente nos sistemas de resfriamento evaporativo. Um único centro de grande porte pode gastar de 3 a 5 milhões de litros por dia, o equivalente ao consumo de uma cidade inteira de médio porte. Em termos anuais, isso pode chegar a 1,8 bilhão de litros, volume suficiente para abastecer dezenas de milhares de pessoas. Esse cenário torna-se ainda mais preocupante em regiões de escassez hídrica, já que grande parte dos novos data centers está sendo construída justamente em áreas com limitações de água, como no Nordeste brasileiro.
Diante desse panorama, a busca por sustentabilidade se tornou uma prioridade. Empresas do setor vêm adotando métricas como o WUE (Water Usage Effectiveness), que mede a quantidade de litros de água consumidos por quilowatt-hora utilizado nos equipamentos de TI. A média mundial é de 1,8 L/kWh, mas soluções mais modernas conseguem reduzir esse índice para menos de 0,2 L/kWh. Tecnologias de resfriamento por imersão ou direto no chip, sistemas fechados que reutilizam a água, resfriamento geotérmico e até o reaproveitamento do calor residual para aquecer edifícios e piscinas estão entre as alternativas em desenvolvimento. Outra estratégia importante é a utilização de fontes alternativas de água, como a captação de águas pluviais ou o uso de águas não potáveis em sistemas de refrigeração.
Apesar dos avanços, os desafios permanecem grandes. Além do consumo elevado de energia e água, os data centers também podem gerar impactos sociais e econômicos em comunidades vizinhas, pressionando a infraestrutura local e até elevando custos de recursos básicos. Estudos recentes apontam que os efeitos indiretos da poluição e do gasto energético podem causar prejuízos bilionários à saúde pública e ao meio ambiente.
A verdade é que a revolução digital exige infraestrutura física em larga escala, e essa infraestrutura não é invisível. Se, por um lado, ela garante o funcionamento do mundo conectado, por outro, cobra um preço alto em recursos naturais. O equilíbrio entre inovação e sustentabilidade será decisivo nos próximos anos. Regulamentações mais rígidas, investimentos em tecnologia limpa e maior transparência por parte das empresas são passos fundamentais para assegurar que o avanço digital aconteça sem comprometer a qualidade de vida das pessoas e a preservação ambiental.
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